segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Reinventando o bolo integral

Data de validade é uma coisa muito engraçada. Às vezes passa a data que está marcada na embalagem, mas conteúdo ainda continua bom. Pelo menos é o que parece. Então, por que não consumi-lo?!
Estava dando uma olhada na gaveta de mantimentos aqui de casa e vi que havia um farelo de trigo que já tinha vencida a validade há três meses. Contudo, como o aspecto estava ainda bom, resolvi aproveitá-lo para fazer um bolo integral. 
Nunca havia cozinhado com tal ingrediente, no entanto, resolvi ousar e fazer experimentos. Partindo de uma receita que peguei na internet, fui inventando e mudando os ingredientes de uma forma naturalmente instintiva. Poderia dar errado, mas o que era pra ser bom ficou surpreendentemente maravilhoso! 
No lugar do leite coloquei iogurte Activia natural, o que me fez pensar que ficaria mais fofinho e com um sabor diferenciado. Ao invés de duas xícaras de açúcar mascavo eu coloquei apenas uma, visto que o iogurte já era adoçado e não queria que meu bolo se transformasse num daqueles enjoativos bolos de aniversário. Os ovos também foram diminuídos na quantidade, pois não queria que minha receita ficasse pesada e também não sei porque há bolos que levam tantos ovos, enquanto há uns que não levam nenhum! Não havia farinha integral aqui em casa. Foi aí que entrei com o farelo de trigo com a data de validade vencida, complementando com um pouco de aveia, cuja textura me fez ter vontade de usar também para enfeitar a cobertura do bolo, juntamente com um pouquinho de erva-doce, cujo sabor se revela aromaticamente forte e o aroma verdadeiramente poderoso. Com receio do bolo desandar por não ter nada com o nome "farinha", decidi, então, usar um pouco da branca. Coloquei um pouquinho de mel e canela em pó para dar um charme na receita. 
Quando estava picando a banana e a maçã que iriam fazer o papel principal no recheio do bolo, lembrei de um programa que havia visto um dia na TV, no qual ensinava-se como aproveitar a casca da banana para fazer muitas coisas, dentre elas até farofa e brigadeiro! E como eu adoro reciclagens resolvi usar a casca para bater com a massa e dar um gostinho. Foi uma ótima ideia! E por fim, o fermento não poderia faltar para garantir a fofura do meu bolo.
Todo ano, minha mãe ganha uma cesta de natal da instituição na qual se aposentou, cujo conteúdo é bem "selecionado". As amêndoas com casca, as nozes com casca e as ameixas com semente acabam passando o ano todo conosco intactas, já que todos têm preguiça de abri-las para comer. E no final do ano, minha mãe fica querendo usá-las para fazer a farofa de natal. Aí está a validade vencida que não se deve ignorar!!! Então, esse ano que passou, resolvi convocar minha irmã do meio como auxiliar de cozinha e pedi-lhe que efetuasse a árdua tarefa de tirar a polpa de dentro daquelas carapaças duras com o quebra-nozes, para que eu pudesse usá-la na minha maravilhosa farofa agridoce que compunha a ceia de natal, cuja história contarei em outra futura postagem.
Como havia muitos ingredientes para a farofa, acabou sobrando um pouco das castanhas, cuja crocância se fizera perfeita no paladar do meu bolo inventado. Magnific!
Fiquei feliz por usá-las antes que vencesse a data de validade! 

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

"Strogonov"

Na correria, esqueci de fazer o prato bonito para a foto.
A foto foi tirada assim mesmo.

Era para ser surpresa. O aniversário de minha mãe no domingo passado havia sido ideia de minhas tias. A ideia era boa, o difícil era fazer as coisas escondidas da Dona Gilda. Já disse a ela que deveria ser detetive ou escritora, devido a sua capacidade de investigação e imaginação fértil. Mulher danada de esperta e desconfiada.
Depois de todos os esforços para fazer as coisas em segredo, levando tudo para o salão de festas na surdina, minha tia e minha prima chegaram e trombaram com mamãe no mercadinho aqui na frente de casa. Então, não houve como despistar. Mas o que vale é a intenção.
Merecia muito mais que um strogonoff, mas seria a primeira vez que eu cozinharia para vinte pessoas e, apesar de serem todos da família, eu estava nervosa com o público. Por isso, procurei algo mais simples, rápido e prático de fazer e que fosse bem saboroso. Strogonoff é um prato que, com certeza, agrada a todos. Lembro-me que, quando era pequena, não queria comê-lo porque achava que tinha cara de vômito. De onde eu havia tirado tal ideia? Ainda bem que passou este devaneio.
É engraçado como nosso apetite é variável. Antigamente eu adorava frango ao molho pardo. Quando fiquei sabendo que o sangue da galinha era usado para fazer aquele molho preto lembrei de uma vez que estava na fazenda de minha amiga Marcela. Eu devia ter uns sete anos e vi uma galinha sendo morta daquela forma terrível, degolada e o sangue jorrando pra todo lado. Entrei em pânico e desde então, nunca mais comi frango ao molho pardo. 
Outra coisa que não desce na goela é "dobradinha". Com aquele aspecto asqueroso e aquele cheiro pavoroso, como fazer meu estômago achar que vai fazer um banquete?
Pesquisando no Google, descobri que o strogonoff tem origem russa e que foi criado por um cozinheiro que cuidava da alimentação dos soldados russos. Seu nome verdadeiro é “Strogonov”, em homenagem ao general que protegia o tal cozinheiro. Depois de passar pela China, onde ganhou diversas versões por influência dos americanos que lá trabalhavam, a receita chegou à França, onde fora melhorada e refinada. 
Claro que foi lá que os champignons entraram para a história!
Voilà!
Não houve surpresa, mas o almoço foi um sucesso. Todos adoraram a comida. Sei disso porque vi as pessoas repetindo, e quando cozinhamos, observamos. Pessoas comendo com cara de satisfação e não se contendo em repetir o prato é sinal que a comida está boa e isto é um elogio para quem fez a comida.
Cozinhar é magia. Ver que posso oferecer prazer às pessoas através do sabor é muito gratificante, e, enquanto observo, aproveito para fazer o meu prato, saborear a minha obra e repetir e repetir várias vezes. Porque eu sou gourmet.


quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Mexidão

Estava na casa de minha querida irmã caçula, que, "corujisse"  à parte, está para dar a luz à minha linda e já amada afilhada Mallu (nasce em março...estou ansiosa!) , quando me deparei em algum momento do meu domingo com um problema que sempre me persegue: a fome.
Minha irmã havia viajado com o marido para tirar férias e aproveitar uma lua de mel numa praia fenomenal, me deixando incumbida de alguns afazeres referentes à reforma de seu apartamento. 
Mesmo estando com uma inveja branca dessa maravilhosa viagem (que saudade de um mergulho no mar!) e ao mesmo tempo, achando ótimo poder curtir o sossego de sua casa silenciosa, arejada, iluminada e cheirosa, decidi então, ficar por aqui uns dias. Momentos de sossego a sós comigo mesma e com meus estudos, sem me importar com o cheiro do sinteco recém aplicado, que durou apenas uma hora. Adorei: sinteco ecológico seca rápido e o cheiro some logo!!!
Então, voltando à minha fome, pensei: e agora, o que fazer para comer?
Abro a geladeira e encontro um maravilhoso arroz 7 grãos que ela havia cozinhado ontem e pensei: mexido!!!!
O melhor mexido que podemos fazer é aquele em que se aproveita tudo quanto é "sobra" que está na geladeira, em pequenas vasilhas e que provavelmente não seria consumido por mais ninguém e seu destino acabaria sendo o lixo.
Portanto, como sou a favor do "nada se perde, tudo se transforma", olhei tudo que havia na geladeira e foi feito um delicioso mexido com toques orientais. Digo toques orientais, pois ao abrir o armário da cozinha, me deparei com uma coleção de temperos, e, dentre as cheirosas ervas aromáticas que encontrei, havia o zattar, famoso tempero árabe à base de tomilho e gergelim, muito usado na culinária do Oriente Médio. Resolvi utilizá-lo, mesmo não sabendo se iria ficar bom, mas achei que combinaria com o figo seco turco que encontrei na porta da geladeira, ao lado da mostarda Dijon que serviu para dar uma cor e um toque de sabor à parte na decoração do meu prato.
Numa vasilha de plástico em forma de pimentão verde havia meia cebola roxa e um dente de alho que seriam suficientes para incrementar meu mexidão. Avistei um pequeno ovo de granja que complementaria o valor proteico de minha refeição, juntamente com uma fatia de muçarela . Um tomate que estava solitário, meio murchinho, implorando para ser comido e não ser jogado no lixo foi acrescentado em minha mistura mágica. 
Equipamento usado na confecção de meu fabuloso almoço.
A válvula de gás do fogão havia estragado, mas nada que um fogareiro de acampamento não resolvesse. 
Pronto! Com um toque final de batata palha fina e queijo Gran Formaggio ralado, meu almoço de domingo foi um luxo! 

P.s.: As fotos de baixa qualidade não devem ser levadas em consideração. Eu estava desprovida de minha máquina fotográfica na hora do improviso e tive que apelar para meu celular, que deixa a desejar em relação a este quesito.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Lembranças do Norte e Nordeste

Nas minhas andanças de bike durante minha estada em Montes Claros, a cidade do calor, uma das minhas paradas favoritas, além do Parque Municipal, era o Mercado Central.  Lá encontram-se temperos de cores sortidas, aromas diversificados, legumes e frutas do sertão. Algumas tão lindas e exóticas, que me atiçavam a curiosidade.
Eu me perdia nas delícias dos pastéis fritos e do caldo-de-cana com suco de limão, feitos na hora. Os queijos de minas ficavam expostos cobertos com filó, para afastar os mosquitos que insistiam em tentar provar um pouco do gostinho mineiro.
Havia uma coisa lá que me deixava muito triste: as galinhas caipiras penduradas em um cabo de vassoura, à espera do abate, para se tornarem o almoço do domingo. Isso me fazia sofrer. Ficava com pena das coitadinhas! Com olhares assustados, sabiam que estavam perto do seu fim. Me dava vontade de soltá-las e de xingar os moços que as deixavam nestas condições. Mas não podia fazer nada. Era costume local.
O que me intriga é que, depois de tanta indignação, não consigo deixar de comê-las quando estão na panela. Um paradoxo, eu sei. Tenho dó dos bichinhos, de todos, mas não consigo ser vegetariana!!!
Neste dia, então, ao ver a peixaria, me lembrei do maravilhoso bobó que havia comido em Morro de São Paulo, cujo gosto era tão incrível que eu queria repetir todos os dias na hora em que a fome batia após um longo dia de caminhadas, sol, mergulhos e sorrisos.
Decidi, então, preparar este delicioso prato africano, típico da culinária baiana. Escolhi os maiores, mais apetitosos e suculentos camarões, um maravilhoso coentro verde, fresco e cheiroso, um leite de coco bem cremoso e mandiocas amarelas, daquelas que dissolvem na boca. E para completar e remeter exatamente ao espetacular sabor da Bahia, não poderia faltar o gostinho do vermelho brilhante azeite de dendê.
Deliciei-me, ao som de Billie Holliday, eu e eu mesma! Feliz da vida, lembrando da Bahia!